As meias na podolatria: entre a pele e o imaginário

As meias na podolatria: entre a pele e o imaginário
POV#17

O véu do desejo

As meias movem-se na fronteira sutil entre o pudor e a revelação do desejo. Desde os tempos em que a indumentária feminina era um código social de recato, elas exerceram a função paradoxal de esconder para sugerir, de cobrir para acender o olhar. São véus simbólicos, fragmentos de tecido entre a carne e o mundo, que mantêm viva a imaginação e adiam o gozo da descoberta.

Georges Bataille ensinou que o erotismo não é a total exposição do corpo, mas a tensão entre o permitido e o interdito. As meias estão nesse lugar que pulsa, onde o desejo exala sua virtude e o podólatra, é claro, a aspira.

O gesto e o símbolo

Existe toda uma liturgia nos gestos femininos ligados às meias: a escolha do tipo para cada ocasião, a maneira como elas deslizam pelas pernas, o movimento com o qual são ajustadas no tornozelo, o instante em que se esticam nas coxas. O despir das meias é muito mais do que um ato corriqueiro: para o homem que observa, é um convite lascivo à sua prostração diante da cena. São gestos mínimos através dos quais se condensa a promessa do contato. 

Roland Barthes, em Fragmentos de um discurso amoroso, diria que é no detalhe que habita o desejo; o corpo inteiro não seduz, o detalhe sim, pois é nele em que se permite o devaneio erótico.

A meia, ao velar a pele, guarda e conserva a ilusão da presença do pezinho feminino. O olhar roça o tecido como quem toca a ausência da sua própria dona, aquilo que Freud descreveu como o poder do fetiche: transformar a falta em objeto de adoração.

Tecidos, aromas e símbolos

Cada tipo de meia se traduz numa forma distinta de erotismo. As meias translúcidas de nylon ou seda, por exemplo, evocam a sofisticação do segredo; deixam a pele da mulher cintilar sob uma segunda pele de luxo. Mostram os pés maquiados com um mistério cativante. As solas se exibem na transparência, mas a cútis permanece intocável.

Já as meias arrastão, com suas tramas abertas, bem como as 7/8, são metáforas da liberdade controlada porque o corpo se oferece e se esconde ao mesmo tempo.

As de algodão, por outro lado, impregnadas pelo calor do dia, instauram outro erotismo: a intimidade real. O podólatra encontra nelas um oceano de sensações: o cheiro do pé quente, a umidade recém formada, as marcas do uso ou a impressão de dedos desenhados pela sujeira depositada no tecido. O odor, aqui, amplia o desejo, e a meia também simboliza a presença viva, imperfeita, verdadeira de um corpo que existiu ali.

A guarda do segredo e a expectativa da revelação

A meia e o sapato partilham o mesmo destino simbólico: são guardiões do que o olhar deseja. Ocultam o pé, mas ao fazê-lo o transformam em promessa. São como yin e yang: o esconder e o revelar em perpétua dança de sedução.

Assim como a sapatilha, o escarpin e o tênis, as meias não só cobrem, mas anunciam. Tornam o pé objeto de imaginação, condensando nele o erotismo da ausência.

Quando o calçado e as meias se desprendem, há um clímax: o instante em que o segredo perde seu véu e o desejo encontra o real. O pé, ainda morno e marcado, traz a memória do corpo que caminhou, a narrativa de sua passagem pelo mundo.

Nesse limiar habita o gozo: não no pé nu, mas no gesto de revelá-lo junto às suas fragrâncias do cotidiano. O sapato e a meia não são obstáculos ao desejo; são, sim, o cenário onde ele se edifica.

O olhar projetado na ausência

Na leitura psicanalítica, a paixão pelas meias e sapatos não são necessariamente perversão, mas símbolos da condição desejante humana. A vontade de possuir vive da ausência dos pés nesses objetos; busca o que o olhar ainda não encontrou. Enquanto o véu existe, enquanto há mistério e distância, o erotismo conserva sua força.

Nesse olhar, as meias não são apenas adornos: são dispositivos de imaginação, lembretes de que o verdadeiro desejo não está na posse, mas no intervalo entre o sonhar e o desvelar. No entre da transparência e da opacidade, do toque e do impedimento, do calor e dos aromas, o observador lê nos pés que ali repousaram a mais provocante obra divina.


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