POV#19
Há uma pergunta que insiste em pairar: será que elas, as divindades femininas, têm noção da intensidade dos sentimentos que despertam a partir das solas de seus belos pezinhos?
A verdade é que ninguém sabe explicar exatamente o que acontece quando aquelas solas fazem ponta, dobrinhas se alinham, dedos se unem apontando para o céu e calcanhares lisos e macios reluzem à vista. É um instante capaz de enfeitiçar qualquer podólatra. É quando o olhar perde o controle e o desejo se materializa em pura contemplação.
O silêncio poderoso de um gesto banal
Ela mexe as solas, sem perceber, exibindo-as nas melhores poses. E a dúvida surge: ela sabe o domínio que tem sobre o desejo desses homens?
Tirar os sapatos lentamente, afastar os dedos como quem desperta o próprio desejo; há algo ritualístico nesse ato. O ar muda e o tempo desacelera. Para ele, nada mais existe ao redor. As notas olfativas quentes se desprendem, invadem o ambiente próximo. Qual podofetichista não desejaria estar tão perto a ponto de capturar esses elementos para guardá-los por toda a eternidade?
Por um instante, é como se ela se fundisse ao olhar daquele que a admira, dominando cada canto da imaginação sem precisar dizer uma só palavra.
Do cotidiano ao sublime
Num parque, uma mulher caminha descalça. As solas, marcadas pelos desenhos do piso, denunciam o trajeto percorrido há pouco.
Numa balada, a cena é outra: uma gata na mesa da frente, o salto escorregando do calcanhar, revelando texturas, curvas, provocações. E provações de resistência para quem vê. Tudo parece banal, mas não é. A pura espontaneidade é profundamente envolvente, quase um convite tácito à prostração do homem que venera.
E há ainda a conhecida: aquela dos pés dos sonhos. No carro, no cinema, na praia – em qualquer ambiente, basta um movimento sutil: o pezinho que surge inesperadamente ao lado da face de homem, revelando solas arqueadas, unhas impecáveis e aquela cor que incendeia os sentidos.
A paleta do desejo
Há quem se encante pelas solas branquinhas, de toque suave e aparência quase etérea. Delicadeza da pele alva. Outros preferem as amarelinhas, que parecem carregar o tom do uso, da estrada percorrida.
As rosadinhas lembram frescor e vitalidade. Um rubor natural de quem desperta os sentidos sem esforço. E há ainda quem se perca nas vermelhinhas, quentes, intensas, marcadas pela intensidade e pela temperatura do instante.
Cada podólatra tem seu tom preferido, seu matiz de desejo, seu motivo íntimo, mesmo que inexplicável racionalmente. O que os une é o mesmo encantamento: o olhar devoto diante do detalhe que só os agraciados pelo dom de apreciar os pés femininos percebem.
O feitiço do quase inalcançável
O que se sente diante disso? Um frio na barriga, a vontade de fugir para não assustar com sua descontrolada pulsão e contra o ardente desejo de ficar. De olhar, de se ajoelhar e de rogar: “deixe-me fundir com esses pés que me cativam!”.
Ela imagina a força que desperta? Faz ideia da energia que nasce no ventre do observador e o toma como um mantra de devoção?
Tudo isso é o desejo do interdito: o encanto pelo que está na fronteira entre o erótico e o espiritual, o oculto e o sensorial, o permitido e o proibido. É o magnetismo das solas que dominam o pensamento.
A arte do detalhe
Alguns se fecham nos próprios sonhos e apenas levam consigo aquela cena para toda a eternidade. Outros, com respeito e curiosidade, ousam transformar o olhar em gesto de aproximação.
E há mulheres que os inspiram sem esforço, que transformam o simples em simbólico e o cotidiano em culto. Elas são a personificação do fetiche estético, do poder do detalhe, do encanto do gesto: a arte viva do desejo.
“A podolatria não é apenas um fetiche. É um olhar estético, devocional e poético sobre o corpo feminino e seus mistérios.”



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